16 janeiro, 2009

controlinveste ou o desinvestir da liberdade

Hoje vivi uma situação que não esperamos presenciar tão cedo: um despedimento colectivo.
Para mim, que a crise sempre foi algo de muito abstracto ou distante, foi um pequeno choque deparar-me de manhã com a redacção do jornal 24 Horas fechado (desprezos jornalísticos à parte, são jornalistas mandados para a rua de um dia para o outro), e um ambiente de cortar à faca da redacção do Jornal de Notícias.
Um pequeno choque que só é pequeno porque, para um estagiário que está a uma semana de acabar o estágio, são efemérides... mas que, por outro lado, traduz como se vive o jornalismo nos dias de hoje - ou melhor, como não se vive...

Basicamente o grupo que detém, entre outras coisas, jornais como o Jornal de Notícias, Diário de Notícias, o Jogo e 24 Horas, despediu 122 trabalhadores. Puff! De repente, 122 pessoas já não são precisas! Com certeza que a qualidade não sairá danificada... sobretudo porque, e falando do caso mais próximo de mim, se andaram a contratar CHEFIAS nos últimos tempos! Parece-me bem.

Ora, pensando mais à frente: como é que uma redacção que de repente perde cerca de 25 pessoas é suposto sobreviver? Parece que já estou a adivinhar: admitindo mais estagiários aka mão-de-obra grátis e contratando apenas colaboradores a recibos verdes e a ganharem um salário ridículo! Boa!
Lamento, mas a qualidade sai ferida na mesma. Eu não queria dar o terrível exemplo d'0 Primeiro de Janeiro, que de um dia para o outro pôs toda a gente na rua e passou a fazer-se pela mão de jornalistas desportivos. Sem desprimor para os jornalistas do Norte Desportivo, mas o resultado está à vista e não é bonito.

Mais: o Jornal de Notícias dá lucro, subiu as vendas e sustenta, por exemplo, os desastres do Diário de Notícias. No entanto, as dispensas do JN foram bem gordas...
Mais ainda: o Jornal de Notícias é o jornal sobrevivente da cidade do Porto, mas as dispensas no Porto foram bem gordas...

Há coisas que são relativamente previsíveis.

Começando pela mais corriqueira, grandes grupos económicos que gerem jornais como se fossem supermercados resultam em coisas destas. Sobretudo se quem gere a grande empresa é um senhor ricaço lisboeta sem qualquer vínculo às raízes e à tradição do jornalismo.

A outra é, obviamente, o novo estatuto do jornalista, aprovado recentemente e que define a "possibilidade, praticamente irrestrita, de utilização de trabalhos de jornalistas em todos os órgãos de informação detidos pelas empresas e grupos". Boa! Vamos partilhar textos e tornar os jornais iguais. Viva a pluralidade. Porque não se cria já um único jornal e passamos todos a ter só uma fonte de informação? ^^

...

O engraçado é que isto só se resolve com união. Mas já não existe tal coisa...
Porque se os colegas dos integrados neste despedimento colectivo suspendessem os trabalhos, eu gostava de saber se o senhor Oliveira não voltava atrás.
Porque se mais nenhum estagiário aceitasse trabalhar à borla (ok, estágios curriculares fora, embora o mínimo seja um subsídio de alimentação e transporte... a sério), eu queria ver se havia tantos dispensados ou se, pelo contrário, não havia era mais jornalistas contratados.
Porque isto é uma selva e, se vassilamos, vem um atrás pronto para se sujeitar ao que quer que seja para ganhar um emprego.

É a vida.

Raio de vida que fui escolher para mim...

Um grande abraço a quem foi despedido hoje, sobretudo a dois fotógrafos do JN que sempre foram simpáticos para mim e que me faziam sentir um bocadinho "em casa".


P.S.: Escrita em courier, em homenagem...

3 comentários:

Starlight disse...

Gosto da tua escrita Sara :)

Anónimo disse...

Oh não!! Quem foram os fotógrafos?

Que tristeza. Escolhemos mal. Quando me diziam no Jn "ainda vais a tempo de mudar" eu ria-me, pensava que era uma piada. Bolas. Acho que me vou dedicar à pesca (já que ninguém me quer e não)... o Pingo Doce já está cheio (de licenciados como nós)...

Biju***

Manuel Martins Barbosa disse...

Só tenho feito escolhas realistas na minha vida. E às vezes, custa-me, sabes, entregar a paixão?

Mas cada vez que leio o teu blog fico mais certo do que fiz e isso vai-me deixar sempre triste. Que merda, ensinarem a escrever e depois roubarem as canetas todas!

Mas tu és dura como aço e sei que vais escrever nem que seja com as pedrinhas da calçada! Boa sorte minha pequena rebelde. Revolta-te sempre! Estou contigo!