07 janeiro, 2014

Diário de uma banana desempregada

Ainda estou a trabalhar até ao final do mês, mas já me sinto capaz de fazer um post sobre a minha iminente condição de desempregada.

Se nunca estiveram desempregados no Portugal recente, eis um guião de conselhos que irão receber caso não sejam de famílias-bem, onde um tio director ou político poderá resolver o vosso problema com um telefonema:

1- "Estás desempregada? Mas já começaste a procurar?"

O quê? Como assim, procurar? Mas os empregos não vêm ter connosco? A minha inscrição no centro de (des)emprego não me vai resolver a situação de imediato, arranjando-me um fantástico contrato na área do jornalismo???!!! RESPONDAM!!!!!!!!!!!!!

2- "Ah, filha, que chatice. Agora é tentar arranjar qualquer coisa"

Uma esquina? Cobaia de medicamentos? Traficante de órgãos?
Tenho 26 anos, alguma (pouca) experiência na área, tenho ainda muito que aprender, mas tenham um bocado de calma. Eu não quero agarrar qualquer coisa. Eu quero tentar arranjar um trabalho que me preencha, que me desafie, que não me chule (estágios curriculares em Portugal estão naturalmente fora, o que elimina logo 50% dos anúncios disponíveis). Ainda é cedo para ir agarrar a primeira oferta de 500€ a recibos verdes para fazer uma merda qualquer que me mate por dentro.

E, mesmo dentro do jornalismo, tenhamos em conta o seguinte diálogo travado ontem:

3- "Sara, já viste o novo projecto xxx? Vi que tem uma área para candidaturas e precisam de jornalistas. Quem sabe se não é uma boa oportunidade para ti."

"Olá, e obrigada por te lembrares de mim! Já tinha andado a ver no fim-de-semana. Confesso que tenho grandes dúvidas em relação a este projecto enquanto algo jornalístico (parece-me, sim, propaganda ideológica), mas... sim, não custa nada enviar o CV e ver no que dá!"

"Pode ser, mas o importante é começar e quem sabe não surgem novas oportunidades".

O que importa se for propaganda ideológica? O importante é começar. Não interessa se estiveste aqui a fazer um site praticamente sozinha, cheia de responsabilidades. Agora tens é de começar por algum lado, mesmo que isso implique fazer orações à economia de mercado, campanha anti-Sócrates e, quiça, preparar a candidatura de um investidor qualquer do PSD ao cargo que ele tem em vista com a criação deste projecto jornalístico (?).
Porque não mandar também o CV para o Jornal O Crime? Para a revista Maria? Para um folhetim qualquer do Reino de Deus? O importante é começar. O importante é agarrar "qualquer coisa".

Nada do esforço feito até ao dia de hoje conta. Note-se que não tenho filhos para sustentar, nem estou a morrer de fome; esta é mesmo a mentalidade que impera actualmente. A realização não conta para nada no Portugal de 2014, onde há um exército de reserva para qualquer posto de trabalho, e onde temos de agradecer de joelhos ao empregador o favor que ele nos faz ao dar-nos um contrato. Estamos num país onde há anúncios de emprego que já especificam que se trata de um trabalho remunerado. Olha-me que porra.

Palavra que, se for para agarrar qualquer coisa, certamente que não a agarro em Portugal.





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