A nossa democracia precisa de partidos para funcionar. Problema:
os principais partidos e suas juventudes partidárias andam há anos a funcionar
com os objectivos errados. Em vez de trabalharem para o sucesso do país
trabalham para a perpetuação da máquina partidária. São corporativistas e só
deixam subir quem pode ser útil na teia de favores, ou quem pode ser
controlável. Existem para a sua própria existência. Estão corrompidos e elevam
a cargos de poder gente tremendamente incapaz. Infelizmente, a fraqueza das
instituições contribui muito para a fraqueza de um país. E mesmo com a crise (a
vários níveis), não dão sinais de querer mudar.
Isto a propósito de mais um texto de João Lemos Esteves (olá
João, no caso se ter googlado e ter vindo parar a este pasquim). Trata-se de um
membro da JSD, que frequentou (frequenta?) a Faculdade de Direito da
Universidade de Lisboa – what else? – e cujo livro favorito era, aos 18 anos, “A
Revolução e o Nascimento do PPD”.
Apesar de ser da JSD, João não tem mostrado entusiasmo com o
actual governo. Porquê? No seu espaço de opinião no Expresso, podemos perceber
o que aflige o jovem laranjinha. Mas antes de lá chegarmos, temos de comer com
3 blocos de texto de cassete, que incluem, por exemplo: “Não há outro partido que conheça tão bem o povo português como o PSD -e os portugueses sabem que não há outro partido com gente tão talentosa, tãomeritória, tão capaz como são os quadros locais e nacionais do PSD. Também porisso se afirma que o PSD "é o partido mais português de Portugal". Palavra
da salvação.
O que preocupa o jovem João é que, com tamanha
impopularidade, o PSD vai perder as autárquicas, o seu prestígio, o carinho dos
portugueses.
“Bom, que Passos Coelho se
suicide politicamente, tudo bem: não é um assunto que me preocupa muito, até
porque - confesso! - entendo que o Primeiro-Ministro atingiu um estado de
fanatismo ideológico tal que se encontra na fase de negação: erra, falha, mas
insiste, insiste, insiste no erro! O que me preocupa é o mal que Passos Coelho
está a fazer ao PSD (para além do mal que causa aos portugueses)”.
Parece-me que esta última frase entre parêntesis foi acrescentada a posteriori para não parecer que o
jovem militante partidário só se preocupa só com o partido.
“Passos Coelho já
desistiu das autárquicas: julgo, aliás, que o objectivo do Primeiro-ministro é
mesmo perder as próximas eleições para poder afirmar que não governa ao sabor
dos ciclos eleitorais”, escreve João sem um “LOL” a acompanhar esta epifania.
E continua:
“Com esta estratégia,
um conjunto de pessoas muito capazes, cheias de talento e vontade para
trabalhar em prol das suas comunidades, vai ser prejudicada. Entregar de
bandeja municípios e freguesias ao PS é outro "desastre político
nacional" que será cometido por Passos Coelho, com reflexos negativos para
os portugueses que serão sentidos a médio prazo”.
Tive uma overdose de partidarismo e não consegui continuar a
leitura. Mas perdi tempo a analisar esta cartilha porque são vários os João
Lemos Esteves que aguardam a sua vez na máquina partidária e que um dia podem
chegar a Primeiro-Ministro, porque é disto que são feitas as grandes jotas
deste país. Textos para consumo interno, onde se debatem estratégias
partidárias e onde a preocupação maior é saber que consequências as acções
terão para o partido e para a sua perpetuação no poder. No país pensa-se no tempo que sobrar. Pelo estado das coisas, não tem sobrado muito.
Ou os partidos se renovam e esta mentalidade muda, ou vamos
continuar na merda enquanto país. Basta ler mais livros que não “A Revolução e
o Nascimento do PPD” para saber isto.
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