04 março, 2013

Causas de um Portugal em crise II



A nossa democracia precisa de partidos para funcionar. Problema: os principais partidos e suas juventudes partidárias andam há anos a funcionar com os objectivos errados. Em vez de trabalharem para o sucesso do país trabalham para a perpetuação da máquina partidária. São corporativistas e só deixam subir quem pode ser útil na teia de favores, ou quem pode ser controlável. Existem para a sua própria existência. Estão corrompidos e elevam a cargos de poder gente tremendamente incapaz. Infelizmente, a fraqueza das instituições contribui muito para a fraqueza de um país. E mesmo com a crise (a vários níveis), não dão sinais de querer mudar.

Isto a propósito de mais um texto de João Lemos Esteves (olá João, no caso se ter googlado e ter vindo parar a este pasquim). Trata-se de um membro da JSD, que frequentou (frequenta?) a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa – what else? – e cujo livro favorito era, aos 18 anos, “A Revolução e o Nascimento do PPD”.

Apesar de ser da JSD, João não tem mostrado entusiasmo com o actual governo. Porquê? No seu espaço de opinião no Expresso, podemos perceber o que aflige o jovem laranjinha. Mas antes de lá chegarmos, temos de comer com 3 blocos de texto de cassete, que incluem, por exemplo: Não há outro partido que conheça tão bem o povo português como o PSD -e os portugueses sabem que não há outro partido com gente tão talentosa, tãomeritória, tão capaz como são os quadros locais e nacionais do PSD. Também porisso se afirma que o PSD "é o partido mais português de Portugal". Palavra da salvação.

O que preocupa o jovem João é que, com tamanha impopularidade, o PSD vai perder as autárquicas, o seu prestígio, o carinho dos portugueses. 

“Bom, que Passos Coelho se suicide politicamente, tudo bem: não é um assunto que me preocupa muito, até porque - confesso! - entendo que o Primeiro-Ministro atingiu um estado de fanatismo ideológico tal que se encontra na fase de negação: erra, falha, mas insiste, insiste, insiste no erro! O que me preocupa é o mal que Passos Coelho está a fazer ao PSD (para além do mal que causa aos portugueses)”. Parece-me que esta última frase entre parêntesis foi acrescentada a posteriori para não parecer que o jovem militante partidário só se preocupa só com o partido.

“Passos Coelho já desistiu das autárquicas: julgo, aliás, que o objectivo do Primeiro-ministro é mesmo perder as próximas eleições para poder afirmar que não governa ao sabor dos ciclos eleitorais”, escreve João sem um “LOL” a acompanhar esta epifania. E continua:

“Com esta estratégia, um conjunto de pessoas muito capazes, cheias de talento e vontade para trabalhar em prol das suas comunidades, vai ser prejudicada. Entregar de bandeja municípios e freguesias ao PS é outro "desastre político nacional" que será cometido por Passos Coelho, com reflexos negativos para os portugueses que serão sentidos a médio prazo”. 

Tive uma overdose de partidarismo e não consegui continuar a leitura. Mas perdi tempo a analisar esta cartilha porque são vários os João Lemos Esteves que aguardam a sua vez na máquina partidária e que um dia podem chegar a Primeiro-Ministro, porque é disto que são feitas as grandes jotas deste país. Textos para consumo interno, onde se debatem estratégias partidárias e onde a preocupação maior é saber que consequências as acções terão para o partido e para a sua perpetuação no poder. No país pensa-se no tempo que sobrar. Pelo estado das coisas, não tem sobrado muito.

Ou os partidos se renovam e esta mentalidade muda, ou vamos continuar na merda enquanto país. Basta ler mais livros que não “A Revolução e o Nascimento do PPD” para saber isto.

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