03 novembro, 2012

Deixa Morrer

E aparece assim
Acendeu-se a luz
Estão vivos outra vez! 

...

Quando conheci Ornatos Violeta já eles estavam parados há quatro anos. O meu b.i. marcava 19 e tinha acabado de fazer um novo grupo de amigos, com quem pude descobrir não só os Ornatos, mas outras bandas. A "Chaga" e o "Dia Mau" eram alguns dos pontos altos de cada madrugada de quarta-feira (e depois sábado) passada no Contagiarte. All Star a escorregar no chão molhado de cerveja, uma camisola de uma banda qualquer, desgosto de amor recente, uma estúpida canção que só eu ouvi.

Estavam criadas as condições para mergulhar no mundo dos Ornatos.

O Manel era diferente, cantava com o meu sotaque. "E não foi assim que a razão nos amou" não acaba num 'amô' lisboeta. Os r de "Foi como entrar, Foi como arder" são enrolados como os meus, sem vergonha ou esforço de os tornar iguais aos r de todos os outros.

O Monstro Precisa de Amigos arrebatou-me. Desde a melodia de "Para Nunca mais Mentir" à melancolia de "Notícias do Fundo". As letras. Os jogos entre antónimos. "Estranha forma de acordar, Que é estar pronto para dormirMeu mal é ver que eu vou bem". As palavras certeiras: "Sentir não é mostrar, E dar não é sentir, É morrer em paz". Não é mesmo? E que adolescente não se revê num paternal "Eu sei a tua vida foi, marcada pela dor de não saber aonde dói"?

E depois, o inevitável:

A cidade esta deserta
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoente da loucura
Ora amarga, ora doce!
Para nos lembrar que o amor é uma doença
Quando nele julgamos ver a nossa cura
.


Às vezes comentávamos como seria ver um concerto de Ornatos agora, que são maiores do que aquilo que eram quando terminaram. O Pedro já os tinha visto em 2000, tinha eu 13 anos (gostava de ter nascido 10 anos mais cedo, estou musicalmente fora de época), mas o suspiro entre nós era mais do que legítimo. Afinal de contas, os 5 Ornatos moravam na nossa cidade e estavam na flor dos 30's. Havia sempre pedidos. "Quando é que se juntam?". Nunca os deixaram parar em paz.

Até que as comemorações dos 20 anos falaram mais alto e, em 2012, com 25 anos, pude assistir ao meu primeiro concerto de Ornatos Violeta. Fui ao primeiro no Coliseu de Lisboa, a 25 de Outubro, e aquelas quase 3 horas arrebataram-me, o que não é fácil quando a expectativa já por si é alta. Estavam melhores do que nunca. Passei o dia seguinte a cantar aquelas músicas de sempre e a recordar pormenores - aquela parte em que cantou diferente do CD, aquilo que disse antes daquela música, o olhar maravilhado com que olhavam para o Coliseu esgotado, os abraços no final das músicas. No dia seguinte fui ver Bon Iver ao Campo Pequeno e foi quase como se não tivesse acontecido: no final de Bon Iver eu já estava a pensar no que estariam os Ornatos a tocar na sua segunda noite de Coliseu esgotado.

Já não havia bilhetes, nem para o terceiro em Lisboa, nem para nenhum dos três no Coliseu do Porto, mas eu consegui um bilhete para o último no Porto. O primeiro no Coliseu dos Recreios tinha sido fantástico, mas o último na nossa cidade era imperdível.

E foi. Noites como a de ontem não se esquecem. Ironicamente, o último concerto da banda aconteceu a 1 de Novembro, feriado dedicado a visitar e recordar os falecidos. Agora sim, os Ornatos Violeta podem morrer de vez.


...
Se é tão bom de ouvir
Vivo para ti
Até o nosso amor morrer

Mas deixa o nosso amor morrer




1 comentário:

R. disse...

Tanto procuraste que sempre conseguiste para o do Porto ;)

Eu adorei o de dia 25, adorei tudo como já tínhamos falado. Fico contente que eles tenham decidido fazer estes concertos principalmente para todos nós que nunca os tinham visto :)