Sim senhor. À primeira vista, este texto do jornal i até parece uma notícia…
“Sexta-feira passada, Sócrates encontrou-se em privado com a sua grande amiga Angela Merkel. O encontro foi confirmado ao i pelo gabinete de imprensa do governo federal alemão.”
(…)
"Mas não se pense que os encontros bilaterais e as suas ambições diplomáticas ficaram por Berlim. Dias antes, o diplomata freelancer aterrou em Madrid, mais uma vez à frente de Passos Coelho, para ter um encontro igualmente privado com Zapatero, o seu "melhor amigo político", como Sócrates fazia questão de afirmar sempre que tinha oportunidade de mostrar a intimidade entre os socialistas ibéricos.”
"Fonte oficial de Moncloa confirmou o encontro, que classificou como de amigos, sem precisar o dia da semana passada em que ocorreu. Tal como em Berlim, também aqui os temas têm cláusula de confidencialidade e a mesma fonte chegou mesmo a afirmar ao i que ninguém encontrará registo algum das conversas tidas entre Zapatero e Sócrates. Passos Coelho chegou ontem a Madrid e esteve com o chefe do governo espanhol sem adivinhar que o seu antecessor já lá tinha estado a facilitar ou a minar as relações entre o governo de direita e um governo socialista que vai a votos a 20 de Novembro e que tem fortes possibilidades, lá como aconteceu por cá a 5 de Junho, de ser copiosamente derrotado.”
Até aqui, o jornal i passa com nota positiva, embora aproveite cada parágrafo para mandar umas farpas a Sócrates. Acho ainda engraçada a expressão “copiosamente derrotado”. O governo de Sócrates deixou-nos de fio dental, o primeiro-ministro viu-se envolvido em esquemas que nunca mais acabam, e ainda assim o PSD só ficou à frente do PS por 10 pontos percentuais. Isto é ser “copiosamente derrotado”? Eu acho que foi pouco para aquilo que podia ter sido. Aí está o problema de se usarem adjectivos desnecessários numa notícia.
Mas aquilo que poderia ser uma notícia vai-se gradualmente mostrando como uma encomenda. O artigo nem sequer é assinado, o que não deixa de ser estranho, uma vez que o jornal i até confirmou junto das fontes oficiais estrangeiras se os encontros de Sócrates tinham realmente acontecido. Não é da Lusa, não é da redacção, não é do gabinete de comunicação do PSD ou CDS, pura e simplesmente não é assinada. Mas continuemos:
“A quem conhece José Sócrates, não espanta esta tentação de influenciar as decisões e condicionar a margem de manobra dos adversários políticos. Estamos igualmente bem habituados ao pouco sentido de fair play político do ex-primeiro-ministro. O que talvez fosse mais difícil de imaginar é que os dirigentes políticos europeus aceitassem jogar intrigas de bastidores.”
Caraças, este jornalista parece conhecer mesmo bem Sócrates… Serão parentes? Terão um caso mal resolvido?
“Resta esperar que tais malabarismos não tenham maior consequência que aquela que tiveram outros números circenses de José Sócrates. Estaríamos nesse caso diante de práticas de política paralela que, a ser apadrinhadas ao mais alto nível dos salões europeus, seriam motivo de preocupação.”
Sobe o parágrafo acima, não há nada que eu possa acrescentar, é baixo demais.
“Pelos vistos, o primeiro-ministro português está longe ainda de poder contar, junto dos amigos de Sócrates, com a confiança que nele depositaram os portugueses no recente acto eleitoral.”
Ui, e este então, que transforma Pedro Passos num pobre coelhinho indefeso, injustiçado perante a malícia dos caçadores? Esses socialistas malvados, a minar a confiança que os portugueses entregaram ao salvador!!! Gentalha!
O parágrafo final podia ter sido retirado de um qualquer discurso da coligação PSD-CDS. Assim, em copy-paste, sem mais nada:
“Pode não nos agradar que os políticos europeus lidem assim com o governo português, mas temos que nos acostumar, pois a situação em que nos deixou a governação socrática condena-nos mais que nunca a uma posição sem voz nem decisão, recebidos em regime de segunda classe, calados e sempre de mão estendida.”
Aquilo que não me agrada é o jornal i abrir as pernas desta maneira. Vendo estes falhanços jornalísticos, dá-me gozo ver que o jornal se tem vindo a afundar desde a sua criação, até ao dia em que vai fechar de vez.
6 comentários:
Tudo isto é triste, e nem sequer é fado. E eu nem gosto de fado.
O "i" será de "inteligente"?
O "Jornal i" tem ganho relevância, pelo menos estética, e, confesso, até acho um projecto interessante, actual e jovem. Talvez agora tenha mudado de mãos se renove e se sustente no mercado.
Com artigos destes, tenho dúvidas. Acho que a mudança foi para pior...
Meu deus do céu,estou pasmadíssima!Isto é passar completamente dos limites.Não seria um artigo de opinião? É triste as pessoas usarem a liberdade de expressão assim, tornam-na dolorosa para aqueles que a defendem.
Navajoksky, um artigo de opinião vem assinado, não era o caso. Um editorial tem de estar identificado como tal, e não vem em forma de notícia... É apenas uma aberração...
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