01 fevereiro, 2011

Olhe, era uma revolução, faxavor

Ora bem, fiquei sem bolsa e agora estou com febre. É a altura ideal para fazer um post comprido e onde se reclama muito.

Hoje um colega de profissão (e todos sabem como isto de ser recém-licenciado em jornalismo é coisa animadora) enviou-me uma notícia do Expresso que dizia o seguinte:

FMI: jovens enfrentarão desemprego toda a vida

O diretor geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) fala numa "geração perdida" no desemprego. Futuro será marcado por maior protecionismo comercial e agitação social violenta.


"Há uma geração perdida de jovens destinados a sofrer toda a vida com o agravamento do desemprego e das condições sociais", afirmou o diretor geral do Fundo Monetário Internacional , Dominique Strauss-Kahn, citado pela Reuters.


Para quem acaba de saber que afinal não vai ter contrato e vai manter-se a recibo verde (embora tenha sido aumentada), perdeu a bolsa a meio de um mestrado no ano em que tem de pagar 2 mil euros de propinas mais alojamento e, ao início da manhã, ficou a saber que as regras da empresa no que toca a férias vão alterar-se e que devia era sentir-me abençoada por a entidade patronal não descontar os dias de férias no salário de quem está a recibos verdes, está claro que me apeteceu logo dar puns de alegria com mais boas perspectivas.

Mas "que parva que sou". Todos os caminhos vão dar à desistência do mestrado e ao regresso à "casinha dos pais", mas eu teimo em teimar. Eu não devo ser um calhau com dois olhos, eu sou o Stevie Wonder das pedras.

A minha vida ficou logo melhor quando soube que, no Largo de Camões, haveria uma concentração de apoiantes à revolução que está a decorrer no Egipto. E pus-me a pensar (pouco, dada a burrice por mim demonstrada nas linhas anteriores):

O que é que o pessoal reivindica em países como Egipto ou Argélia? Vamos reflectir em conjunto, caro leitor solitário deste blog:
  • Fim de regime corrupto. Alguém aqui se identifica com esta exigência? Se me dão licença, eu sim.
  • Melhores condições de vida. Anyone? Será de mim ou andamos a perder direitos? Será de mim ou a China já esteve mais longe do nosso código laboral? Deve ser de mim. O desempregado ainda nem tem de pagar indemnização ao patrão e eu aqui com lamurias de menina rica. Pfff!
  • Regime apegado ao poder. Aqui não. Aqui, felizmente temos tido ao longo de 37 anos muita rotatividade. Parece o bailinho da Madeira: ora danço eu, ora danças tu. Ora roubo eu, ora roubas tu. Ora emprego eu o menino da JSD, ora empregas tu a jovem promessa do PS. Ora temos candidatos pouco capazes às eleições, ora temos de levar com eles na mesma (um não no boletim de voto era uma bonita iniciativa). É muito bom ter direito a votar! Mas o direito ficou-se por aí. É pena, porque era uma ideia com muito potencial
  • Censura. Ui, aqui em Portugal, país civilizado, isso não. Aqui eu posso escrever que os nossos governantes são uma cambada de gatunos e chupistas. Posso ler num jornal que o Sócrates não sabe desenhar casas e que faz compras no Freepor'. Mas será que posso escrever aqui os nomes dos patrões que exploram empregados anos a fio a falsos recibos verdes são uns gatunos e uns chupistas se eu for uma dessas pessoas a trabalhar para esses patrões? E se eu trabalhar no Sol, será que posso dizer que o José Eduardo dos Santos é um tirano ou que o director do sol deve estar cheché? Poder até posso, mas depois sofro as consequências não é? É a mesma coisa no Egipto. Eles também podem muita coisa, mas depois habilitam-se a levar uma traulitada física. Aqui somos levados psicologicamente. Censuras diferentes, a merda é a mesma.
Não me entendam mal. Vamos todos participar nos movimentos de apoio aos egípcios, aos tunisinos, aos argelinos, aos marroquinos, aos iranianos (que devem estar para breve, espero). Mas lembrem-se de olhar cá para dentro também. Se não saímos todos à rua, num momento propício como este, com a indignação legítima que temos guardado aqui dentro, e quando até temos, pelo menos os jovens, uma canção para entoar da autoria dos Deolinda, não sei quando é que vamos sair. E isto é pior do que viver num regime opressor: aqui podemos sair, mas escolhemos simplesmente não nos darmos ao trabalho.

8 comentários:

Dylan disse...

Claro que sabes que deves tomar paracetamol ou ibuprofeno :)

Somos um povo pacato, mas sinceramente, já faltou mais para termos atitudes parecidas com aquelas que se verificam em África. E, neste momento, és daquelas que pouco falta para saltar a tampa!
Força vizinha!

Sara non c'e disse...

Ando a tomar vários e diferentes por dia, para a garganta e para a febre. Gosto der alternar :P

Sobre o saltar a tampa, não é que seja preciso muito para ela me saltar, mas só uma tampa saltada não causa mossa a ninguém (só a mim!). É complicado... Mas obrigada vizinho! :)

Anónimo disse...

eu acredito em ti e acredito na esperança. vai definhando, é verdade, mas se não for isso estamos todos para aqui a cometer suicídio colectivo.

pronto, foste o case study do meu último post =)

beijinho e olha... boa sorte para nós

R. disse...

estamos a precisar de ir tds para a rua! este país como está não pode continuar :/ eu faço-te companhia e sei de mais algumas pessoas q o fariam tb

as melhoras*

M. disse...

Olha eu estou contigo... até porque tarda nada dá-me uma coisinha má por viver num país assim.É melhor que se organize esse movimento antes que isso me aconteça para eu assim puder fazer a minha parte!

Anónimo disse...

amanhã vou a uma entrevista daquelas que oferecem... um bom ambiente profissional. e uma gorjeta pelo trabalho. e para escrever... culinária.

o suicídio começa-me a parecer muito boa ideia =/

Sara non c'e disse...

Luna, vê lá é se não tens prejuízos com isso! E é óbvio que só ficas aí até te aparecer algo melhor! Que lata a dessa gente, a sério!

Anónimo disse...

Tanto criticaram a China e agora querem que nos pareçamos com os chineses em termos laborais.Dizem que é a economia!