26 maio, 2012

Eu fui - mas contrariada

E lá fui eu ao Rock in Rio pela segunda vez na vida, mais uma vez para ver Metallica, e mais uma vez contrariada por ter de ir ver concertos ali. Há quem chame festival ao Rock in Rio. Eu chamo-lhe centro comercial com música ao vivo.

Mas, passados quatro anos, lá estava eu outra vez. Foi engraçado constatar que a coisa continua igual. Mas, ontem, devo ter estabelecido um record qualquer. Já estava a passear no recinto há quase uma hora e ainda não tinha nenhum (!!!!) brinde na mão. Culpo a minha falta de eficácia, pois à minha volta toda a gente já tinha ou um sofá insuflável da Vodafone, ou uma mochila da Sic, ou uns óculos rosa sabe-se lá de onde, ou um brinde do boticário. Tudo por um mundo melhor, claro. Na "rock street" há perfumarias e cabeleireiros. Há uma FNAC e uma loja qualquer que estava a ser promovida pela Maya e pela Carla Baía (será que ali passam factura? Nunca saberei). Há uma Multiópticas e ainda um espaço do Turismo de Espanha, não vá alguém lembrar-se durante o festival que ainda não marcou as férias em Sanxenxo.

Não faltam espaços para fazer umas comprinhas. Ora, o que é que não existe no Rock in Rio? Um papelinho com o alinhamento das bandas e os horários, para dar a quem entra no recinto, como acontece, por exemplo, no Optimus Alive. Aliás, em todo o recinto não vi sequer um cartaz com as bandas que tocavam nesse dia nos vários palcos. Mas quem quer saber das bandas quando há lojas e patrocinadores a dar brindes?!

O Rock in Rio é um festival fascinante. Como jornalista, quase todos os dias (não estou a exagerar) recebo comunicados do Rock in Rio tão interessantes como a lista de lojas que vão estar presentes no rock in rio, convite para ir ver o espaço vip e o catering antes do festival, novos patrocinadores e parcerias, fotos dos ensaios das luzes, lançamento do livro rock in rio e da ciclovia rock in rio. Para além dos comunicados desinteressantes, o pessoal da agência de comunicação adora ligar-nos para a redacção a saber se recebemos o comunicado e se vamos estar presentes.

Mas quando mando um mail a perguntar efectivamente algo relacionado com música, a resposta tardou a chegar e não me agradou. Na semana em que o Rock in Rio ia começar, ainda não tinham sido divulgados os horários de actuação das bandas. Coisa fundamental para que quem trabalha ou venha de outra cidade possa saber se consegue apanhar a sua banda de eleição, ou para antecipar quanto tempo o espectáculo vai durar e se vale a pena dar 61€ por 40 minutos de música. Mas não. O Rock in Rio, este ano, não divulgou horários nenhuns. E mesmo o alinhamento das bandas que estava no site foi trocado. Andava eu a fazer tempo no recinto a pensar que eram os Evanescence quem ia tocar, e recebo uma SMS a dizer que quem tinha acabado de subir ao palco tinham sido os Mastodon. Perdi as primeiras músicas de uma banda que queria ver porque a organização acha que o alinhamento das bandas é um pormenor. Afinal, o que é que isso interessa quando uma perfumaria está a oferecer maquilhagem grátis e um stand de automóveis está a dar descontos?

No fim, o concerto de Metallica foi um espectáculo do caraças e é isso que fica. Mas que ninguém me chame snob por repetir que odeio o Rock in Rio. Um festival de música onde a música é tratada como um pormenor não merece o meu respeito. Ainda que o óleo hidratante que ganhei enquanto os Evanescence actuavam me pudesse amaciar a alma.

1 comentário:

Amanda disse...

Nunca vi alguém ser tão sincera a respeito do Rock in Rio como você. De fato, seja no Rio, em Portugal ou qualquer outro lugar, os organizadores pouco se importam com os anseios do público. Pena que, as vezes, é a única oportunidade de ver uma banda que só viria num grande evento como este.