08 março, 2012

O drama. O horror. O choque de realidade

Jerónimo de Sousa acusou, ontem, o Primeiro-Ministro de negligência para com os idosos. Porquê? Porque o estado da saúde pública está doente e só o governo é que parece não saber disso. Disse o líder do PCP:

Aquilo que se está a fazer no plano da saúde, particularmente aos mais idosos, negando-lhes a possibilidade de transporte, negando-lhes a possibilidade de uma consulta atempada, de um exame atempado, responsabiliza este Governo pela morte antecipada de muitos portugueses, particularmente de idosos".

Confrontado com esta intervenção, Passos Coelho repudiou tais acusações, classificando-as de mero "jogo político".

Eu não queria chocar Passos Coelho com a realidade, mas aquela coisa chamada governar funciona assim: os políticos tomam decisões (ou fogem delas), colocam-nas em prática e elas reflectem-se directamente na vida das pessoas.

Parece mentira, mas é verdade

... (pausa para se recomporem do choque)

Eu sei, é um choque chocante (é preciso dar ênfase à situação). O político em campanha conhece perfeitamente o estado desgraçado em que vivem os portugueses. Já o político governante diverte-se a brincar às politiquices no Parlamento, nas reuniões, nas inaugurações, nos aviões e na União Europeia. E vê os resultados das suas decisões através de estatísticas que os seus assessores, chefe de gabinete, adjuntos e técnicos especialistas candidamente lhe mostram. E o que serão aquelas estatísticas? Números. Apenas números. No caso dos mortos, são menos eleitores. Uma chatice. Mas a vida é assim, não é? Não podemos fazer nada para evitar isso, pensarão (?) os nossos governantes.

Mas pensam (?) mal. Se o governo não faz nada para melhorar as condições dos nossos hospitais, se a minha avó com 85 anos vai às urgências e espera 6 horas num corredor, se a segurança social está na miséria, se os lares de idosos são caros como a merda e se as reformas são simplesmente uma merda baixinha e as pessoas vivem em dificuldades (com frio para não gastar energia, por exemplo) e não têm dinheiro para ir ao médico privado que o sr. Passos Coelho frequenta nem para ter a assistência que o sr. Passos Coelho vai ter quando for velho e muitos acabam por morrer mais cedo por falta de assistência devida e falta de condições no geral, então senhor Coelho, lamento dizer-lhe que sim, que o governo é o responsável pela morte antecipada de idosos.

É duro de ouvir, mas só uma besta quadrada que não vive neste mundo chama à afirmação de Jerónimo de Sousa "jogo político". Há mais coisas na vida para além da política. Desculpe confrontá-lo mais uma vez com a realidade e chocá-lo duas vezes num só texto que nunca vai ler.

5 comentários:

Cirrus disse...

Mais uma na Mouche. Estás-me a sair uma rebelde, Sara do deserto...!

Anónimo disse...

e eu que ando a tentar marcar uma daquelas consultas para as mulheres há três anos. já tinha conseguido marcar para dia 20 deste mês e ligaram-me a dizer que a médica que me ia atender foi-se embora.

de resto... este país não é para velhos. mas também não é para os jovens.

olha, se esse senhor fosse competente lia o teu blogue e outros da nossa praça e tinha mais atenção ao que diz.

Sara non c'e disse...

O incrível é que estas coisas acontecem mesmo. Se eu pudesse usar uma espingarda e não ser presa depois...

Luna, como te percebo. Não vou ao médico há anos... mas agora como tenho seguro de saúde vou passar a ir outra vez (e descobrir que tenho 50 doenças e sou uma inconsciente, mas ir a um centro de saúde e tentar conseguir uma consulta põe-me doente...).

Anónimo disse...

eu nem tenho médico de família há 6 anos ou mais.

sim, aproveita o seguro. mais vale prevenir ;) e de certeza que és muito saudável anyway.

Catsone disse...

Sara, jogam todos, uns a mandarem trunfos porque morreram mais pessoas que o normal, outros a manilha de "cara" de paus. Outros lembram-se de filosofar de forma senil à farta com um Sócrates, e a trupe deste último, como cães de guarda, jogam-se para cima do velhote (este sim, a poder fazer parte da estatística deste ano).
É tudo um jogo e a tua avó de 85 (e a minha de 91) são os primeiros peões a cair...
Para mim, uma verdadeira jogada política era que se jogasse um Molotov lá para dentro.