04 março, 2012

Exército de reserva

Eu já evito comprar seja o que for nas lojas chinesas, porque acho que todos conhecemos o conceito de trabalho escravo e trabalho infantil e o porquê de os produtos chineses terem conquistado o mundo por serem tão estupidamente baratos. E não tendo poder de compra para ser cliente habitual de uma loja de Comércio Justo, fui voluntária numa loja. Mas nunca tinha feito a mesma associação de exploração para com os preços competitivos que as Amazons desta vida praticam.

Até que li este artigo. São 4 páginas, mas vale a pena perceber como são tratados os trabalhadores dos armazéns que recebem e embalam os produtos que compramos com um 'clic'. As pessoas são números que têm de ser maximizados a qualquer custo. Em troca, têm um emprego. E se um dos empregados acaba de ser pai e quer tirar o dia para ver mãe e bebé? Rua. E se quiser ir votar? Pois que sim, que deve votar, mas se for votar vai para a rua porque faltou ao trabalho. turnos de 10,5 horas (12h no Natal), supervisores que vos relembrar a toda a hora o quão maus vocês são porque estão abaixo dos objectivos. Não, não estou a falar da China: estes armazéns gigantes de trabalhadores temporários, escravizados e dispensáveis situam-se nos Estados Unidos.

Eu, que já fiz uma montanha de biscates para ganhar uns trocos, também sei o que é fazer trabalho mecânico e ser pressionada para o fazer o mais depressa possível. Sei o que é ter um contador no computador que conta os 25min de pausa do dia, sem desculpas. E sei o que é ter de estar de pé 8h por dia, ser revistada a cada saída do trabalho (mesmo para a pausa do almoço) e ter de receber ordens de gente bruta (dentro dos supermercados, a SONAE era de longe a pior a tratar o pessoal). Mas isto não é nada.

Se querem continuar a fazer bons negócios na Amazon e Companhia, de consciência tranquila, não leiam o artigo. A não ser que concordem com a máxima cada vez mais dominante que diz que "as pessoas têm é sorte por terem um trabalho", não devendo por isso queixar-se ou exigir melhores condições. Até porque para cada posto de trabalho, há um exército de reserva pronto para nos substituir.

http://motherjones.com/politics/2012/02/mac-mcclelland-free-online-shipping-warehouses-labor?page=1

2 comentários:

Cirrus disse...

Importante demais para ficar por aqui. Obrigado, Sara!

Sara non c'e disse...

Foi o que achei quando o li no facebook. Isto tem de ser espalhado!