29 dezembro, 2011

Nightmare after Christmas

Quando vou passar o fim-de-semana ao Porto e venho para Lisboa na segunda-feira no Intercidades das 06h52, há 3 coisas que eu rezo para que não aconteçam:

1- Que o comboio não apareça ou que pare pelo caminho
2- Que perto de mim viaje alguém com um bebé
3- Que nos lugares próximos do meu se sentem dois compinchas idosos.
Um casal pode ser. Dois amigos não. Deus do céu, não.


O ponto nº1 é mais ou menos óbvio. Para ficar mais uma noite na minha cama, faço a viagem Ermesinde - Lisboa à segunda-feira e aterro directamente no trabalho. Confio que a CP me leve ao destino, e tem corrido sempre tudo bem, mas nunca se sabe.

Os pontos 2 e 3 poderiam ser só um, mas acho que uma lista tem de ter no mínimo 3 alíneas para ter alguma credibilidade.
Tem tudo uma razão de ser. São 06h52. Não interessa se tenho de acordar às 5h da manhã, eu vou sempre deitar-me tarde na noite anterior, confiando que terei 3 horas para dormir no comboio. Tudo aquilo que eu não quero é um bebé que, em 3 horas de uma viagem enfadonha, vai chorar de certeza. Vai berrar. E vai-me impedir de dormir / acordar-me. Eventualmente também irá brincar, dormir, mamar e ser fofo, mas não caiam na armadilha! Trata-se de uma bomba-relógio, meus amigos. Quando menos esperarem, vai berrar e vocês vão acordar. Não é que haja alguma coisa a fazer, visto que os lugares são marcados. Se houvesse, eu não me limitava a rezar para que não me calhasse um bebé num raio de 10 metros.

Ora, foi precisamente o 3º ponto que me calhou na viagem pós Natal. Eu já tinha passado por uma experiência semelhante. Por isso, quando vi os dois seniores (entre 75 e 1000 anos) a entrarem na minha carruagem, vi logo que a coisa ia correr mal.
Eu sei que 2 compadres idosos podem parecer inofensivos. Não se iludam! Podem ser tão ou mais perigosos do que um bebé. Atentem:

À minha frente estavam 2 lugares vazios, mas os idosos entraram no comboio a gritar pelos seus números do lugar (14 e 16) e a olhar para a atmosfera, esperando talvez que os lugares lhes caíssem no colo. Já na outra ponta, alguém lhes disse que tinham de regressar para o início da carruagem. Eles voltaram e um sentou-se ao meu lado. O outro sentou-se noutro lugar qualquer. Nenhum se sentou nem no 14 nem no 16. Mas que raio! Tive de dizer ao senhor que o seu lugar nao era ao meu lado, mas à frente (onde diz 14 e 16... quem diria que esses lugares existiam mesmo, ãh? Há coisas fascinantes).

E pronto, a partir daí não me adiantou pôr Kyuss, Soundgarden nem Tool no meu mp3. Eu já só ouvia os idosos.

Calma. Eu gosto de idosos. Dou sempre conversa a idosos (excepto quando são 06h52 da manhã). Mas dois amigos idosos num comboio são sinónimo de conversa permanente, aborrecida e ALTA, MUITO ALTA, PORQUE OS SENHORES OUVEM MAL, PORRA.

Um casal de idosos pode ser. Já se aturam há décadas, querem é descansar um do outro.
Dois amigos idosos é o descalabro. Falam, falam, falam, 3 horas de conversa, blá blá blá, que emoção fazer a viagem de comboio consigo, compadre, vamos pôr a conversa em dia enquanto toda uma carruagem quer dormir. ARGH. Já é a segunda vez que passo 3 horas em claro porque tenho o azar de me calharem amigos idosos à frente ou atrás.

Isto é o karma, e o karma é um bitch vingativo, como se sabe. Há cerca de um mês encontrei uma colega no comboio e fomos a viagem toda a tagarelar, mesmo depois de termos reparado que no banco à frente ia um coitado de um estudante de medicina a devorar um livro e a suspirar por ter de levar connosco.
Mas pelo menos nós falámos baixo.

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