Há exactamente uma semana, estava o completo caos entre os Restauradores e o Rossio. O autocarro não passava, os carros amontoavam-se, duas ambulâncias estavam estacionadas na berma e dezenas de pessoas rodeavam o grande acontecimento. O grande acontecimento era um homem a ser reanimado no passeio.
Um homem e dezenas de mirones a atrapalhar o trânsito e possivelmente os pobres profissionais do INEM. Limitei-me a suspirar e a pensar no quão parolo é o tuga que pára o que estava a fazer para ir espreitar a desgraça alheia. É sempre assim com um acidente na estrada e sempre me irritou um bocado.
Até hoje.
E nem foi por nenhuma razão em especial que mudei de ideias. Foi só porque hoje, a caminho do trabalho, ia levando com vidros na cabeça. No caminho, de repente, ouvi o barulho de uma janela a partir-se (e eu ia de fones nos ouvidos) e à minha frente caíram vidros de um prédio. Hesitei, nao fossem cair mais vidros, fiquei a olhar para cima e avancei com calma, ao mesmo tempo que olhava para cima a ver se teria acontecido alguma coisa. Mas fui a única. As restantes pessoas que passavam comigo continuaram o seu trajecto. É de manhã, tudo o que importa é a pressa de chegar ao trabalho. Caíram vidros no chão? Normal. Podem cair mais no momento em que vou a passar? Logo se vê, que agora tenho pressa, e esta gente toda só me atrasa.
Só hoje percebi que se esta é a alternativa ao nosso voyeurismo, que prefiro gramar com dezenas de mirones a entupir ruas e passeios.
Tudo menos indiferença, por favor.
2 comentários:
Bem colocado. Não queremos ser chineses a verem crianças a ser atropeladas repetidamente até morrerem.
eu sou das que vou sempre a correr (a não ser que já tenha chegado assistência médica). Mas eu tenho uma boa desculpa :)
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