Ontem, descobrimos que João Duque, líder do grupo de trabalho para a definição do novo serviço público, defende que a informação veiculada pela RTP Internacional deve ser “filtrada” e “trabalhada” para passar a mensagem de promoção do país. Um tratamento da informação que, acrescentou, “não deve ser questionado”. “A bem da Nação”.
Para a RTP caseira, defende "o fim dos debates televisivos, argumentando que o canal público não tem de replicar aquilo que já é feito pelos canais privados".
Pelo meio ainda teve tempo para sugerir que os noticiários da RTP "têm falta de isenção". "Não podem ser as políticas a definir o que são os conteúdos, mas se estiver à frente de um órgão de comunicação social, com um tipo de orientação, escolhem-se notícias para seguir essa orientação. E os profissionais ao serviço desse meio de comunicação vão orientar o seu trabalho para este fim.”.
Brilhante. Todos os restantes noticiários são isentos - essa utopia - porque são privados, menos o da RTP, porque é público. Como sempre, público mau! privado bom! uga uga!
Mas esta gente é escolhida para estes grupos de trabalho fantoche pelos governantes que os portugueses elegeram. Há que dizê-lo: merecemos aturar estes pequenos salazares versão gananciosa, porque foi este o tipo de gente que há meses a maioria dos portugueses escolheu para o governo.
Bom era se só os nossos governantes fossem calhaus desprovidos de miolos. Não. Neste momento, a burrice domina a cena político-económica de uma maneira geral. Senão vejamos os nossos resultados no exame a que a Troika nos submeteu hoje.
Parece que fomos bons meninos e que estudamos a matéria! O próximo capítulo do programa é: baixar salários no privado / competir pelos baixos salários.
“A fim de melhorar a competitividade dos custos da mão-de-obra, os salários do sector privado deverão seguir o exemplo do sector público e aplicar reduções sustentadas”.
Calma, ainda há mais e melhor: Portugal “Tem de competir com países em que os custos laborais são muito mais baixos, e isso consegue-se de duas formas: reduzindo salários e aumentando a eficiência”.
Temos de competir com que países? Com os gigantes China e Índia? A sério? Isto é mesmo o nosso objectivo actual?! Pensam alcançá-lo em que século? Quando tivermos gente a morrer à fome e a mendigar uma tigela de arroz chao chao?
É difícil acreditar que é esta gente que nos comanda. De um lado temos pessoas que querem controlar informação de um canal televisivo a bem da Nação. Do outro, gente que acha que Portugal tem capacidade para competir pela via do custo baixo. Estes neoliberais adoram criticar a China, mas querem ser a China de uma forma original: condições de vida miseráveis, sim, mas dadas pelos privados, que isso do público é muito perigoso.
Ou melhor, querem que outros países da treta como Portugal sejam a China. Depois, os senhores franceses, alemães, britânicos, etc. das Troikas regressam para os seus confortáveis países, onde nunca lhes passaria pela cabeça investir numa estratégia de competitividade pelos baixos salários e aumento da carga horária, e para cúmulo pedirem mais produtividade a quem vai ganhar menos. É tudo demasiado surreal. É tudo demasiado estúpido.
Vivemos tempos estúpidos.
Corra-se com esta gente. A bem da Nação.
6 comentários:
estou tão farta da estupidez que para aí anda que todos os dias receio ligar a televisão ou ler jornais...
ainda hoje disse que eu devia era tentar desligar de tudo... Mas não dá... Estas coisas mexem directamente connosco, com as nossas vidas... Temos de estar atentas!
Adeus subsídios de férias e de Natal!!!
Não tenhas dúvidas que esse roubo vai acontecer...
Vai?? Não, já aconteceu. Ou não viste o senhor da Troika falar na TV???
Bem observado...
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