Falsas questões de falsos governantes

Depois da descoberta de que as pensões vitalícias de ex-políticos iriam ser poupadas aos cortes, e depois de muito barulho,Vitor Gaspar vem propor agora - que um dos privilégios de muitos foi notado - que os ex titulares de cargos políticos sejam abrangidos por uma "contribuição solidária".

Uma contribuição solidária. Que bonita é a solidariedade de quem nos f... lixou à grande.

Solidariedade porquê? O ministro deixa no ar a resposta. Diz ele, pausadamente, que a exclusão das subvenções dos políticos do esforço exigido à Função Pública é “uma falsa questão, no sentido em que as subvenções são pagas em 12 prestações e, portanto, a questão dos 14 meses não se aplica”.

Eu trabalho a recibos verdes, ganho 12 meses e, este Natal, vão-me tirar um montante de um subsídio de Natal que nunca recebi na vida. Não me lembro de ter sido contemplada com uma excepção na altura em que decidiram cortar no subsídio de Natal dos Trabalhadores. A mim, a questão aplicou-se num instantinho.
No entanto, os ex-políticos tiveram direito a uma benesse de Vítor Gaspar, que teve pena dos pobres pensionistas - alguns deles com 54 anos e que vêm comentar para a televisão o estado do país e as regalias que os trabalhadores dos transportes têm.

Porque é que eu, que em nada contribuí para este fim do mundo em cuecas, fui logo abrangida por uma injustiça, e a gente que dirigiu este país foi protegida? Arrisco uma resposta: porque eu sou uma anónima que escrevo num blogue anónimo do povo, enquanto os ex-titulares de cargos políticos ainda se podem chatear com quem nos (des)governa. O medo e o respeitinho são muito bonitos. Era tão bom que o sentissem também em relação ao povo, que ainda é a maioria (embora se esqueça disso).