17 agosto, 2011

O mundo não é a preto e branco

É-nos tão fácil falar. É tão fácil criticar. Eu que o diga, que tenho um blogue a que recorro sempre que quero espingardar contra algo ou alguém. Na maioria das vezes estamos errados, porque na maioria das vezes só olhamos para um dos lados da história.

Hoje, no Jornal da Tarde, a SIC transmitiu uma peça que contava o drama de uma empreendedora de Guimarães, que queria aumentar a sua produção fabril de fiação (ou algo do género), mas não encontrava gente para trabalhar. O que não deixa de ser peculiar, numa zona como Guimarães, onde o desemprego é alto, precisamente porque tudo o que era fábrica fechou.

A patroa contava que apareceram algumas pessoas, enviadas pelo Centro de Emprego, e que arranjavam desculpas para não aceitar o lugar, ou que ao segundo dia deixavam de aparecer. Que era uma vergonha e que isso do subsídio de desemprego devia acabar, porque assim as pessoas não vão trabalhar.

De facto, é o que apetece dizer. Que diabo, estamos com 12% de desempregados e não aparece ninguém que queira trabalhar na fábrica da senhora.

O que a jornalista se esqueceu de perguntar foi quanto é que a senhora empreendedora oferecia de salário. Não é preciso ser brilhante para concluir que é o salário mínimo. A senhora não arranja ninguém. Será que já experimentou aumentar as condições salariais e ver se começam a chegar interessados? Calculo que não.

Conheço um senhor de 60 anos que recebe 1200€ de subsídio de desemprego. Já se sabe que, aos 60 anos, as ofertas de trabalho são próximas de zero. Mas o Centro de Emprego lá lhe arranjou uma entrevista. Era para ser comercial num stand de uma marca de automóveis de luxo. O que ofereciam? 480€ de salário + 35€ de ajudas de custo para gasolina, para atestar no depósito do tal carro da marca luxuosa que bebe como uma esponja. Nota: o comercial tinha de andar de cliente em cliente, a tentar vender os carros. O salário era capaz de dar para a gasolina, com alguma sorte.

Agora digam-me: quem, no seu perfeito juízo, troca um subsídio de desemprego de 1200€ pelo salário mínimo, de onde ainda vai ter de pagar a gasolina para trabalhar? As pessoas desempregadas continuam a ter responsabilidades. Continuam a ter uma casa para pagar e filhos para alimentar. Eu sei, é uma novidade chocante, mas é verdade. As responsabilidades não findam com a perda de emprego.

Gostava de perguntar à senhora empreendedora e a todos os que chamam 'parasitas' aos beneficiários do subsídio de desemprego (para o qual descontaram), o que fariam se estivessem nesta posição. Mas só aceito respostas sinceras, se não for incómodo.

4 comentários:

Anónimo disse...

olha tinha escrito um comentário enorme e deu um erro qualquer e desapareceu tudo :s

ainda bem, porque não ia dizer nada que já não soubesses...

Cirrus disse...

Nem mais nem menos. Esta coisa de oferecer o salário mínimo e encher os cofres é mesmo à tuga. Quer escravos? Que vá à Índia!

Sandra disse...

Sim, essas pessoas não têm noção do rídiculo. E há quem fale contra mas é evidente que nenhuma pessoa normal, independentemente das responsabilidades, aceita satisfeito um salário mínimo por 8 horas de trabalho a não ser que não tenha outro recurso e que esteja desesperado (meu caso). Não me parecem bem que as pessoas se acomodem a subsidios, mas é ridiculo este costumo de se pagar o salário minimo. Considero falta de respeito pela dignidade da pessoa humana. Porque o salário minimo , se fosse 200 euros, essas pessoas iam pagar 200 euros, mesmo sabendo que os trabalhadores iam estar a passar fome. Às vezes ouço pessoas a reclamar do que ganham, mas afirmam na frase seguinte que pagariam um sálario minimo se fossem empregadores... Há uma falta de elevação moral neste país que dá nojo. E uma falta de sentido de igualdade também. 8 horas de vida * 21 dias por mês não valem em Portugal 485 euros. Não valem. Mesmo que a pessoa seja analfabeta e tenha um trabalho de pouquissimo "valor acrescentado"!

rita disse...

É caso para dizer: se for um ''bom'' e ponderado português vá para o fundo de desemprego ou assim como assim meta baixa!