É incrível a quantidade de comentários idiotas que tenho lido neste rescaldo do acto eleitoral. E como não gosto de ficar atrás de ninguém, também eu tenho coisas potencialmente idiotas para dizer.
Não sabem como adoro ler pessoas a ridicularizar o Partido pelos Animais e pela Natureza. Ou porque estes defendem o aumento do preço da carne para tornar toda a gente vegetariana à força (?), ou porque são um partido que só defende animais e natureza e portanto não merecem eleger ninguém.
Bastaria ir ao google e escrever "programa partido pela natureza e pelos animais" para se perceber que ambas as afirmações são estúpidas. Mas, esqueci-me, estúpidos são aqueles que não vão votar, é claro.
Depois, há também os ressabiados. Aqueles que adoram fazer a caricatura dos que se manifestaram a 12 de Março na chamada "manifestação à rasca". E, naturalmente, aproveitam para destacar os 40% de abstenção e perguntar onde andam aqueles que se manifestaram. Não foram votar, não é seus malandros? Foram é drogar-se, beber cervejas e andar no vosso carro topo de gama, não é? Claro que sim. Quem faz este tipo de comentários idiotas deve ter uma estatística própria onde sabem que a abstenção é formada maioritariamente por jovens licenciados ou estudantes universitários. Esses gandulos.
Outra coisa que começo a achar parva: considerar que quem não vai votar é um preguiçoso, que não se preocupa com o estado do país e que, portanto, não tem direito a reclamar depois.
Isto é algo em que eu já acreditei. Há muito tempo fiz aqui um post em que também insultava os abstencionistas. Na altura disseram-me que um dia talvez eu olhasse de maneira diferente para a coisa... Pois esse momento chegou.
Uma ressalva: não acho que quem está desiludido com o leque de candidatos que temos à disposição deva simplesmente baldar-se às eleições. Existe uma opção bonita que se chama voto em branco. Para quem não sabe, consiste em pegar no boletim, não escrever nada (se escreverem que votam no Chuck Norris, ou que o SLB vai ser campeão, ele deixa de ser branco - resistam a esse impulso) e dobrá-lo bem dobradinho. Chama-se a isto "voto de protesto".
No entanto, conheço quem tenha votado toda uma vida e que chegue a este momento com o sentimento de que ir votar já não vale a pena. Porque o sistema está viciado, está podre, porque os candidatos são todos medonhos e o voto em branco não produz o efeito desejado. Eu também acho isto tudo e votei em branco. Mas já não consigo só insultar aqueles que viram costas ao acto eleitoral. Não consigo porque, nessa percentagem cada vez maior de abstencionistas, estão misturados os que não querem saber e aqueles que querem tanto saber que estão demasiado desiludidos. Ou aqueles que pura e simplesmente não se revêem neste sistema e, como tal, não farão parte dele.
Cada vez parece haver mais desiludidos com a coisa. Cada vez cresce mais a abstenção. Aos políticos não interessa interpretar o número elevado da abstenção de outra forma que não seja culpar os marotos dos tugas preguiçosos que vão à praia. Dava trabalho e seria humilhante para eles concluírem que são incapazes de mobilizar a sociedade. Tal como não se dão ao trabalho de tirar grandes ilações acerca dos votos em branco.
Outra coisa que acho errada: votar no menos mau. Pior: achar que "votar no menos mau" é igual a "votar no melhor". Como se escolher entre Hitler ou Mussolini fosse igual a escolher entre Hitler, Mussolini ou nenhum deles. Continuem a votar na mediocridade. Depois não esperem sair dela.
De certeza que havia mais algumas idiotices para assinalar, mas ficarão para o próximo post. Prometo que as próximas serão da minha autoria. O que eu tenho mais é porcaria no cérebro.
P.S.: Acabo de tropeçar neste texto. Aconselho a que o leiam e que percebam que existe vida na abstenção para além de preguiçosos e acéfalos. http://esculturasnotempo.wordpress.com/2011/06/05/a-desconstrucao-de-um-voto-a-menos/
2 comentários:
Como eu também me chamo Sara, adorei o nome do blog *.*
Tenho uma ligeira recordação sobre esse texto sobre a abstenção...
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