07 janeiro, 2011

Parece que afinal ganho acima da média

Queria ter comentado esta notícia ontem, mas por causa da entrega de um trabalho sobre o facto de a União Europeia querer brincar aos exércitos, chega cá com um dia de atraso.

A notícia fez furor, e não era para menos, o que é sintomático da quantidade de gente a recibos verdes que por aí anda a fazer-me companhia:

Recibos verdes. Quem ganha mil euros passa a receber apenas 598 

Jovens a recibo verde vão pagar mais para a segurança social. Taxa passa de 24,6% para 29,6%.

O novo código contributivo está a por os jovens que ganham a recibo verde à beira de um ataque de nervos. Quem ganhe 1000 euros mensais, passa a ter de entregar 21,5% à cabeça aos cofres do Estado por conta do IRS, e 29,6% à Segurança Social. 

Contas feitas, significa que a partir deste mês, quem ganhe aquele valor através de recibo verde leva para casa qualquer coisa como 598 euros, ao invés dos anteriores 621 euros. Outra das inovações do novo código contributivo é que deixa de permitir que seja o próprio trabalhador independente a decidir o que quer descontar para a segurança social. A taxa passa a ser única, de 29,6%, ao invés de oscilar entre os 24,6% do regime obrigatório e os 32% do regime alargado que vigorou até 2010. 
(...)

O mercado de trabalho conta hoje com cerca de um milhão de pessoas a recibo verde, entre trabalhadores precários e profissionais independentes, onde se incluem médicos e advogados mas também desempregados de longa duração que voltam a trabalhar precariamente e sobretudo jovens, incluindo os que saem das universidades.


Primeiro comentário óbvio: isto é uma filha da putice. Sobretudo porque isto é um sistema discriminatório (não vale a pena desenvolver acerca do tema dos recibos verdes e, sobretudo, dos falsos recibos verdes, por esta altura já toda a gente tem a sua opinião.

Segundo comentário: se uma pessoa não lê a notícia até ao fim, pode ficar a pensar que só os jovens é que vão ser prejudicados. Não sei quem é que disse à jornalista que os jovens estão à beira de um ataque de nervos, mas quem lhe disse ter-se-á esquecido de dizer que há muitos milhares de pessoas a recibos verdes durante toda uma vida (que entretanto deixaram de ser jovens, mas que também têm de pagar impostos pesados dos quais pouco vêem). Mais: a jornalista acha mesmo que são os jovens a recibos verdes a grande fatia que ganha mil euros? Essa coisa dos jovens mileuristas é mais ali para o lado dos nuestros hermanos.

Por fim, só lá para Maio é que me volto a queixar do meu salário. É que acabo de perceber que ganho quase tanto quanto alguém que tenha 1000 euros de salário. E eu ganho o salário mínimo.

Bendito 1º ano de isenção... Maldito sistema discriminatório.

8 comentários:

Cirrus disse...

Pois, mas depois são os desempregados que isto e aquilo, são os trabalhadores que são malandros, são as produtividades baixas... Ninguém fala deste autêntico escândalo, uma vergonha nacional. Bem apanhado, Sara! E há coisas que só mesmo quem as vive se lembra!

Anónimo disse...

palhaçada... quero dizer, já não bastava não termos direitos nenhuns, não termos direito a subsídio de desemprego, baixas e todas essas coisas que a gente sabe, ainda somos mais (ainda) penalizados. querem o quê? que o pessoal que trabalha a recibos verdes pare de trabalhar e se dedique ao tráfico ou à prostituição? qualquer dia (e não só no meu caso) compensa mais viver numa barraca ao pé de um rio e plantar uma hortinha. ups enganei-me. qualquer dia não, hoje em dia.

nota-se que estou revoltada?

Pronúncia disse...

Sara, não vivo de recibos verdes e comparada com a maior parte da população que trabalha neste País sou uma privilegiada, mas estas coisas mexem comigo, a sério que mexem. O problema acaba por ser muito mais sério do que aquilo que as pessoas trabalham, descontam e acabam por levar para casa no fim do mês. Isto acaba por reflectir-se em tudo, em especial na economia do País. Como é possível alguém pensar em futuro, com estas contas de sumir?! Simplesmente não é possível...

Bom post, Sarita!

Sara non c'e disse...

Estão-se a cometer aqui dois erros crassos:
-tentar que a nossa competitividade seja conseguida através de salários cada vez mais baixos (que é mais ou menos o mesmo que dizer "não valorizamos o teu trabalho, sejas qualificado ou não, ganhas isto e não pias").
-Tentar basear a saída da crise em aumentos de impostos. Continuem a aumentar, rapaziada... não só as pessoas ficam com zero para gastar, como as empresas têm de pagar mais impostos com menos receitas (porque quem não tem dinheiro não consome). Giro giro é também o facto do Estado andar a investir na educação dos seus jovens para depois eles irem dar a produtividade a outro país. Tudo isto é fantástico, não sei qual a minha parte preferida!

Luna, tens dúvidas? Se já existe economia paralela em tempo normal, imagina com este tipo de incentivos... qualquer dia sai mais barato ficar em casa sem fazer nenhum. Mas espera... qual casa? Tudo isto é revoltante, mas há-de melhorar.. já tens alguma cosia em vista? Beijinho grande*

Pronúncia, não há futuro, não há maneira de planeares o dia de amanhã com estes salários, com o despedimento prestes a bater à porta a qualquer momento e sem qualquer apoio uma vez caído nessa desgraça. Teme-se um 2011 difícil... eu não sei como vai ser quando chegar a Maio e deixar de estar isenta... Sai-me mais barato despedir-me e voltar para a casa da minha mãe no Porto! É ridículo...

Cirrus disse...

Já venho a dizer isso há uns tempos...

Sara non c'e disse...

E eu não acredito que os políticos que tomam estas medidas não saibam disto. Eu gostava de perceber... gostava...

José María Souza Costa disse...

Ao povo, nunca nada. Lá e Ca...
Passei aqui lendo. Vim lhe desejar um Tempo Agradável, Harmonioso e com Sabedoria. Nenhuma pessoa indicou-me ou chamou-me aqui. Gostei do que vi e li. Por isso, estou lhe convidando a visitar o meu blog. Muito Simplório por sinal. Mas, dinâmico e autêntico. E se possivel, seguirmos juntos por eles. Estarei lá, muito grato esperando por você. Se tiveres tuiter, e desejar, é só deixar que agente segue.
Um abraço e fique com DEUS.

http://josemariacostaescreveu.blogspot.com

Anónimo disse...

Sarita,
umas coisitas mas nada de mais. nada que me dê para sair de casa dos pais tão cedo, por exemplo.
as consequências vão ainda mais além: num país e numa europa onde a população vai ficando mais envelhecida (= mais reformas), o facto de os jovens não terem como avançar e progredir faz com que constituam família cada vez mais tarde. filhos talvez um e com sorte. eu falo por mim. e depois estou-me a imaginar a ter uma conversa do tipo "ó filho, estudar para quê? começa já à procura de um trabalhinho, até pode ser que consigas fazer carreira nalgum supermercado".

e triste.