21 junho, 2010

O adeus a Saramago

Somos um país negativo. Ai que somos todos uma porcaria, raio de povo que é sempre o pior em tudo (menos no futebol), estamos sempre em último nos rankings, ai que desgraça que aqui ninguém quer trabalhar, ai que desgraça que nem sei onde vamos parar.

Seria então de supor que, quando temos um português laureado com um prémio Nobel, o valorizássemos como se não houvesse manhã. Que, pelo menos, tivéssemos a curiosidade de ler a sua obra - e contra mim falo, que apesar de ter sem exagero mais de 30 livros comprados (por mim!) ainda por ler, leio pouco e nunca li nada de Saramago.

Mas não. O nosso único prémio Nobel tinha alguma razão em estar desiludido com o país. Este país negativo mas que, quando tem algo de que se orgulhar que não seja relacionado com futebol, se comporta como se estivesse habituado toda a vida a ver prémios Nobel serem atribuídos a portugueses.

O nosso Presidente da República, que gosta tanto de falar na terceira pessoa, deixou que a primeira pessoa suplantasse o cargo e não foi. Enquanto cidadão, aprecio-lhe a honestidade. Enquanto Chefe de Estado, já não acho assim tão bem. Quem acharia bem com certeza era Saramago. Pelo menos isso.

O Correio da Manhã brindou as manhãs de Portugal, no dia seguinte à morte do escritor, com o título:  
"José Saramago - Estado paga avião no funeral do escritor".
Confesso que fiquei surpreendida. Sim, eu sei, é o Correio da Manhã e se calhar fui ingénua, mas nunca pensei que se descesse tão baixo.
É curioso que procurei e procurei por este título no site do correio da manhã, mas não o encontro em lado nenhum... O título na net surge como "Avião militar traz Nobel para Portugal". Pois.

Falta cumprir-se Portugal.

1 comentário:

Dylan disse...

Isto sem falar nas pessoas que acusavam Saramago de não ser patriota, esquecendo-se elas que o ribatejano foi escorraçado do país por um ministro.