21 abril, 2010

(en)cavac(ad)o

Como muitos portugueses, fiquei estupefacto com a incrível grosseria de que o Presidente checo Václav Klaus deu mostras, em duas ocasiões, durante a recente visita do homólogo português a Praga. Mas fiquei ainda mais estupefacto com a passividade demonstrada por Cavaco Silva, que escutou impávido a arenga do seu colega checo sem lhe responder com a firmeza e a dignidade que a situação impunha. Se, como já aqui afirmou a Ana Margarida, é uma impensável descortesia desconsiderarmos alguém que convidamos para nossa casa, mais grave ainda é quando esse gesto ocorre no plano das relações entre dois Estados, ainda por cima parceiros na União Europeia.
Se as palavras de Klaus foram ofensivas, o silêncio de Cavaco só contribuiu para as ampliar. O institucionalismo que noutras circunstâncias o Presidente Cavaco Silva tem evidenciado exigiria neste caso uma réplica pronta e sem qualquer ambiguidade em defesa da imagem externa do Estado português, que o checo pretendeu manchar.
Bastar-lhe-ia ter lembrado que Portugal é membro de pleno direito da Comunidade Económica Europeia - actual União Europeia - desde 1986 e foi também graças ao esforço solidário dos contribuintes portugueses que a República Checa beneficiou dos fundos estruturais que lhe têm permitido prosperar desde que ingressou no clube comunitário, em 2004.
Questiono-me como teria reagido Manuel Alegre em semelhantes circunstâncias. Ou até Fernando Nobre. E não tenho dúvida que qualquer deles se comportaria à altura da situação, deixando uma palavra de desagrado perante o destempero de Klaus.
A política não é um chá às seis da tarde em Seteais. Na hora de fazerem um balanço do mandato de Cavaco, os eleitores terão de o avaliar também por isto.

Roubado ao Pedro Correia, do Delito de Opinião.

5 comentários:

UN VOYAGEUR SANS PLACE disse...

Bem, desculpe a ignorãncia. A verdade é que no Brasil de hoje, pouco de comenta sobre Portugal na mídia, apesar d'eu ser um grande admirador de vós. Amo a literatura, a música, a maneira portuguesa de usar nosso idioma comum, o espírito crítico e a cultura portuguesa em geral, que rendeu ao mundo nomes como Bocage, Ary dos Santos, Mariza etc, pessoas que eu admiro muito. Meu amor também é português.

Mas eu não sei do que estás a falar. Poderias ser mais detalhada quanto ao que aconteceu na visita a Praga?

Au revoir.
Bem haja.

Sara non c'e disse...

Abdoul, é um prazer ler as suas palavras. Não é todos os dias que nos chegam palavras tão ternas vindas do Brasil. Não sei se o Abdoul é brasileiro, mas também eu tenho estudado com interesse a política externa brasileira, a ligação histórica destes dois países deve ser fortalecida e não o contrário.

O que se passou em Praga vou que o presidente da República Portuguesa foi convidado pelo seu homólogo da República Checa para uma visita, mas o presidente checo teceu algumas críticas á situação económica de Portugal em tom jocoso. Não era o momento apropriado e foi de uma extrema deselegância. Para piorar, o nosso presidente da República (do qual eu não gosto minimamente), não soube responder á altura. Ignorou o sucedido e não soube defender a honra do país que representa.

Pode ler, por exemplo, sta notícia:

http://www.publico.pt/Pol%C3%ADtica/vaclav-klaus-surpreendido-pela-falta-de-nervosismo-de-portugal_1432541

Au revoir :)

Cirrus disse...

Vindo de quem vem, não me surpreende. Este senhor Silva apenas serve para consumo interno. E muito mal. Foi mais uma praga que apareceu neste país, o principal responsável por termos chegado ao ponto a que chegamos. Uma nódoa. Que importava expurgar da nossa fatiota já. Ou daqui a um ano.

Anónimo disse...

E roubaste muito bem, Sara.
Beijinho.

Sara non c'e disse...

:-)