20 fevereiro, 2010

Teoria da Relatividade

Se alguém disser mal da Igreja Católica e fizer pouco das crenças e sacrifícios dos católicos, todos à volta se riem e acenam em concordância. Já se a mesma pessoa criticar o Islão e os muçulmanos, troçando do fervor que colocam na fé, as pessoas olham de lado, rotulando mentalmente o autor de tal impropério de intolerante, quem sabe racista.

Se um português diz que Portugal é uma espécie de fim do mundo, uma terra perdida, a pior em tudo, que tal desgraça "só mesmo em Portugal", e que um comentário tão estúpido só poderia ser feito "por portugueses", ou que tal atitude reprovável é mesmo de "português", todos riem e concordam. Realmente, que parvónia esta. Não há esperança.
Se o mesmo português diz algo semelhante sobre uma minoria étnica, por exemplo a cigana, dizendo que estes não se integram e que causam problemas em qualquer lado onde se instalem, que não cumprem os deveres da sociedade onde escolhem viver mas para exigir os seus direitos lá estão todos, este é obviamente racista, intolerante, um Mário Machado em potencial.

É ténue a fronteira entre a verdade e a discriminação, ainda que os exemplos dados aqui estejam propositadamente extremados e generalizem. Os temas são delicados. Talvez por isso os debates que acontecem sobre assuntos como estes estejam condenados desde o início ao fracasso de uma das partes, porque é difícil a discussão acontecer quando de um dos lados do debate estão pessoas moralmente superiores. Não dá para vencer uma discussão condicionada por ser, na sua génese, um julgamento moral.

5 comentários:

Pronúncia disse...

A fronteira é ténue, penso no entanto que se prende muito com o facto de nos "rirmos" e "concordarmos" porque fazemos parte do grupo de quem se faz troça, de quem se diz mal, enquanto que quando "atacamos" grupos que nos são externos (digamos assim) temos sempre um cuidado redobrado para não se confundir verdade com discriminação... penso que não tem muito a ver com superioridade moral. Por mim falo que me é mais fácil criticar e troçar a realidade que conheço melhor por ser a minha do que a alheia...

Sara non c'e disse...

Pronúncia, sem dúvida. Não foi por acaso que escrevi "Se um português diz que Portugal é uma espécie de fim do mundo (...)". O mesmo acontece quando um estrangeiro nos critica, aí em vez de nos rirmos se calhar já custa mais um bocadinho ouvir a crítica.
Não deixo de achar que é superioridade moral. Há a tendência imediata de rotular quem critica algo 'estrangeiro' como xenófobo, racista, intolerante, muitas vezes sem sequer rebater os argumentos que foram apresentados...
Isto basicamente impede que certos assuntos sejam discutidos, e o que não falta são temas que deveriam ser discutidos...

Cirrus disse...

Sara, não sei há quanto tempo conheces o Cirrus Minor. Mas em relação ao primeiro ponto, queres prova mais provada de que estás profundamente errada do que aquilo que lá aconteceu??

Sara non c'e disse...

Cirrus, não percebi nada do que disseste lol. Manda-me um link do post que referes para ver se eu entendo :)

Cirrus disse...

http://cirrusminor-cirrus.blogspot.com/2009/05/papa-maizena.html