28 julho, 2009

A minha vida dava uma página no Facebook

Acabei de ver um programa do Dr. Phil, cujo tema era aquilo que expomos sobre a nossa vida pessoal em redes sociais, como o Facebook ou o Myspace.

O programa começou muito mal. Comecei a ver a parte em que a convidada do Dr. Phil era a criadora de um grupo no Facebook onde qualquer rapariga pode publicar fotos suas e das amigas bêbedas. Quase sem roupa, caídas no chão, enfim, quanto mais degradante for a foto das protagonistas, melhor.

Tentando perceber-se o objectivo, a criadora do site procura argumentar que, não sendo uma forma de luta pelo feminismo, a ideia é mostrar que as raparigas também se divertem como os rapazes e que também o podem mostrar ao mundo [e, cá entre nós, apesar de qualquer pessoa que tenha miolos perceber que é igualmente mau para homens ou mulheres, a sociedade ainda tolera melhor estes exibicionismos masculinos].

Como se não bastasse a senhora não se saber defender muito bem, o Dr. Phil também sabia encaminha-la para onde queria, mais a sua convidada que achava ridícula toda aquela exposição pública que as mulheres fazem naquele site. O que até compreendo.

Não compreendo é o porquê de irem entrevistar homens e lhes perguntarem o que é que eles acham de tudo isto: "degradante, mostram que são umas galdérias e, por isso, também merecem ser tratadas como galdérias". Mas que argumentação de peso foram buscar! Os homens acham feio, meninas. Toca a tirar isso e a elevar esse comportamento, senão vão ser tratadas como galdérias pelos namorados que arranjarem!

Isto faz-me lembrar aqueles anúncios anti-celulite, espalhados em outdoors, cujo mote era: "Os homens não gostam de celulite". Absolutamente brilhante!...

A partir do momento em que o tema "publicar fotos degradantes na net" adquire um carácter sexista num programa orientado por um psicólogo, penso que não é preciso dizer mais nada a quem apregoa que o machismo é coisa do passado e que as mulheres que ainda se queixam de desigualdade são umas ingratas. Não ficou explícito se as fotos de homens nus a mostrarem a sua masculinidade, ou de tronco nu todos transpirados agarrados a 2 ou 3 garrafas de alcool e a vomitarem também são "inapropriadas". A esmagadora maioria dirá que sim, que também é, mas que ninguém me diga que a sociedade não tolera melhor quando os protagonistas têm uma pilinha.


No essencial, o programa debateu um tema interessante: a vida privada que publicamos online deve afectar o nosso futuro profissional?
Quem é que, nos dias de hoje, não pesquisa na internet pela empresa na qual poderá estar interessado em trabalhar, ou no funcionário que se poderá vir a contratar?
Um dos convidados do Dr. Phil admitiu que, ao seleccionar pessoas para uma futura entrevista de trabalho, pesquisou os seus nomes na internet e excluiu um jovem com bom currículo porque este se definia no facebook como alguém que gosta de "fumar uns charros com os amigos".
A mayor do Michigan tinha, no seu facebook, uma foto em lingerie, e a população está revoltada.

Se coisas como estas não afectam a forma como trabalhamos, há cargos onde a imagem conta muito. Ninguém vai respeitar a senhora que se expõe em lingerie para quem quiser ver, ou um professor primário que, na sua página do Myspace, ostenta a sua banda de garagem adoradora do demónio.

Mas se há entidades empregadoras que exigem que a nossa vida pessoal não afecte a vida profissional, é legítimo que esses mesmos senhores eliminem ou despeçam funcionários só porque estes têm uma foto menos própria da sua vida pessoal na internet?

6 comentários:

Pronúncia disse...

Sara, por alguma razão a vida privada tem esse nome... privada!

A partir do momento que a publicas, toda a gente a pode ver, ou ler sobre ela, logo passa a ser pública. E aquilo que publicamos sobre nós, quer queiramos quer não acabam por transmitir aos outros um pouco da pessoa que somos e do tipo de comportamentos que temos.

Por essas e por outras é que evito ao máximo expor a minha vida pessoal, tanto em redes sociais, como no blogue, e além disso uso um nick, apesar de ter consciência que uma coisa ou outra acaba sempre por transparecer.

Sejam tidos por homens ou por mulheres, os comportamentos que descreves no post são sempre degradantes. Mas quem os publica deve saber que está sujeito às consequências desse acto.
Para mim, o que é ainda mais estranho é as pessoas tornarem essas fotos públicas, só isso já me revela muito sobre o seu carácter... ou a falta dele!

Desculpa lá o tamanho do comentário, mas estas coisas intrigam-me...

Sara non c'e disse...

Pronúncia, repara que não usei a palavra "privada", mas sim pessoal. Não sou menos profissional no que faço (ou gostava de fazer :P) só porque tenho uma foto no Facebook a gozar com o Freeport, ou a fazer caras feias (ainda que a minha página só seja acessível aos meus amigos). Mas é claro que os exemplos de que falei (e que foram falados no programa) são um bocadinho extremos. Na maior parte dos casos não era bem falta de carácter o problema mas sim falta de consciência.
De resto, concordo com o que izes :)

Pronúncia disse...

Sara, claro que não estou a falar das brincadeiras que existem na nossa vida pessoal, e até as publicamos nas nossas páginas em redes sociais.
Essas até são saudáveis. Podem é no entanto dar azo a más interpretações quando publicadas.
Temos é que estar conscientes disso.

Aqui, e no contexto do post, referia-me aos casos mais extremos e que, esses sim, não abonam nada em favor do carácter de quem se coloca em determinadas situações ao publicá-los.
A falta de consciência, como lhe chamas, também me diz algo sobre a pessoa. Se tem tão pouco respeito por si próprio, como será com os outros?!...

Anónimo disse...

sabes que mais? éramos muito mais felizes quando o nosso objecto tecnológico mais avançado era uma máquina de escrever ou uma calculadora.

vieram os bits e pum!

[ando numa de onomatopeias...]

beijinho*

Cirrus disse...

Sara, eu sinceramente penso que a sociedade não deve determinar o comportamento do indivíduo. Se este quer viver de forma diferente da sociedade que o rodeia, pode e deve fazê-lo. No entanto, deve também arcar com as consequências dos seus actos.

Dou-te um exemplo: atendimento em lojas. As atendedoras da Bershka, se tiverem um piercing ou tatuagem visíveis, pouco ou nada choca, uma vez que o seu público alvo também usa e pouco se importa com isso. Se meteres estas pessoas a atender na Cortefiel, não duram muito tempo. E não é preconceito, são apenas diferentes acepções da mesma cultura. Enquanto que na primeira situação, é permitida alguma rebeldia, na segunda o conservadorismo é regra.

Quanto ao candidato que fuma uns charros com os amigos, devia saber que ninguém tem rigorosamente nada a ver com isso. Mas também ninguém é obrigado a, sabendo disso, empregá-lo. E isso é uma das coisas que cada um tem de se convencer - ninguém é obrigado a dar-nos emprego. Para nos dar esse emprego, há duas condições essenciais: considerar que somos bom investimento na relação produtividade/custo e... gostarem mais de nós do que dos outros. E ninguém pode forçar o outro a gostar seja do que for. É a sociedade.

Desculpa a extensão do comment.

Sara non c'e disse...

Luna, sabes como eu odeio e amo as novas tecnologias, mas também sabes que já nos tornamos todos bit-dependentes :-)

Cirrus, os exemplos que dei no meu post são extremos e ajudam automaticamente a formar uma opinião. Mas deve a sociedade ditar tanto assim as normas? Sendo que, claro, quem não as segue é discriminado. Acontece que casos de discriminação em relação a pessoas tatuadas ou que fumam charros são mais socialmente aceites do que aquelas baseadas em questões de homossexualidade, por exemplo. Não são ambas injustiças? Porque é que a opção de negar emprego a um homossexual é alvo de notícia mas quando se nega emprego a um rastafari a culpa já é dele porque escolheu apreentar-se assim à sociedade? Mais: isto faz de algum deles menos capaz de exercer uma profissão?

Não estou a emitir opinião, apenas a lançar debate :-) acho que são questões muito complexas.